8 de junho de 2011

Pra eles, o tempo

Foi uma manhã normal, como todas as outras depois de tanto tempo dividindo costumes. Era isso. O problema de muitas histórias bonitas, é essa mania sem graça que a gente tem de se acostumar com a vida. Parou de se surpreender com qualquer coisa, é batata, dá merda. - Diferente dos outros, foi um dia que não teve sol, não foi claro. Era notável, quando o dia não tá pra você é como se você já acordasse avisado: "Levanta e prepara o lenço, o dia hoje vai ser barra." Era antigo, cômodo, tava se tornando cansativo e normal, mas nunca deixou de ter um certo brilho. Ainda havia por trás de todos esses anos, um laço, uns poucos bons motivos, uns momentos nítidos, capazes de prolongar uma saudade por meses, caso, como avisado, viesse o dia, a ser mesmo, um dia cinzento. - O palpite era o mesmo, de todos, mais cedo ou mais tarde, na velocidade que eles haviam escolhido pra continuar empurrando aquele barco maré à baixo, ele ia ancorar por vontade própria uma hora. Era óbvio. Não se planta tanta expectativa com previsão de fim, se fosse assim, que seriam dos casamentos? Pronto, aí um bom exemplo. Casamentos antigos são sempre motivos de espelho. "O que fizeram esses velhinhos, para merecer uma aparente felicidade tão duradoura?" Não tem segredo, não tem regras. Amar é isso mesmo, conviver é assim... é não esperar nada do dia seguinte, pode ser que chova, que faça sol, a única indicação é que nunca deixemos de lado o mistério, nunca deixar apagar o fogo que acende a vontade, com uma surpresa, um gesto inesperado. - Na saída do café, ele lembrou do começo, de quando não tinha compromisso mais importante do que vê-la depois de um dia exausto. Lembrou que um dia ela teve a mesma importância que hoje tem os amigos. Vivemos de segundos, de milésimos, contamos com sorrisos e lágrimas. Já notou a reviravolta que um pingo que escorre é capaz de fazer na vida de alguém? Não era das histórias mais bonitas, mas pra eles, era incrível. Dividir fases era do que eles mais se encantavam, quantas estações passaram por eles? Olhar pra trás e não se maravilhar era quase impossível, todo mundo admirava, até que chegou a hora que eles, quem nunca poderiam ter perdido a impressionante sensação de felicidade ao olhar pra trás, deixaram de lado, um ao outro, deixaram de lado as noites de risos por noites assim.. escuras, normais, frias as vezes. Onde foi o mistério ninguém sabe, talvez ele não tenha nem ido embora, o que pode ter sido pior. O mistério que um dia escondeu o melhor deles dois, hoje, é um mistério que esconde o porque disso tudo. - Não é fácil lidar com como as pessoas partem sem ir embora, mas olhando bem, as vezes é preciso. Por mais longo que tenha sido a caminhada, a estrada continua, tem gente vivendo o mesmo que você, aí, feliz. Encontrar alguém pra dividir novos mistérios é um dos motivos que instigam o "continuar vivendo", mas pensando bem, às vezes, só é preciso de tempo, pra encontrar o atalho que levará de volta pra onde partimos outr'hora. Só vai vivendo... - E foi feito, da melhor forma, cada um no seu singular, vivendo assim, lembranças do que pode ter sido, expectativas do que um dia ainda pode vir. Nunca perca o encanto.